CRMV-MT marca presença em Rondonópolis para debater leishmaniose visceral e reforça compromisso com a saúde pública
7 de dezembro de 2024 – Atualizado em 16/12/2024 – 6:05pm
O Conselho Regional de Medicina Veterinária e Zootecnia do Estado de Mato Grosso (CRMV-MT) marcou presença em Rondonópolis, na última quarta-feira (04), para participar de evento voltado ao combate à leishmaniose visceral, uma zoonose que tem despertado grande preocupação devido ao aumento de casos e registros de óbitos infantis na região. O encontro, realizado na Câmara Municipal, contou com a palestra do médico-veterinário e pesquisador da Fiocruz Pernambuco, Dr. Felipe Dantas Torres, especialista em parasitologia, que destacou a complexidade do controle da doença em áreas urbanas. Ele abordou o ciclo de transmissão da leishmaniose e a importância de ações integradas entre gestores públicos, médicos-veterinários e a sociedade para combater a zoonose de maneira efetiva.
Representaram o CRMV-MT no evento o diretor Dr. Valney Corrêa e a conselheira Dra. Katia Sales, especialista na área laboratorial. Dr. Valney colocou a autarquia à disposição para trazer novas palestras e capacitações ao município, ressaltando o compromisso do Conselho com a saúde pública e a importância de fortalecer parcerias com o poder público local. Ele também esteve reunido com o prefeito eleito, Claudio Ferreira, que colocou à disposição a futura secretária de Saúde, Tânia Campos, para discutir a inclusão de pautas sobre zoonoses no planejamento da próxima gestão municipal.
Dra. Katia Sales enfatizou a necessidade urgente de implementar soluções diagnósticas mais acessíveis para o enfrentamento da leishmaniose, uma vez que o diagnóstico precoce é essencial para interromper a transmissão da doença e proteger tanto a saúde humana quanto a animal. Ela alertou sobre a limitação de técnicas diagnósticas, que, apesar de sua eficácia, apresentam altos custos, dificultando a sua adoção pelo poder público em um contexto de recursos restritos. A conselheira reforçou que, diante dessa realidade, é fundamental explorar alternativas diagnósticas mais viáveis economicamente, com o objetivo de garantir um diagnóstico ágil e eficiente. Dra. Katia também ressaltou o papel essencial dos médicos-veterinários, que, com seu conhecimento técnico, são peças-chave no controle e na prevenção das zoonoses, desempenhando um papel ativo na promoção da saúde pública.
Além de acompanhar o evento, o CRMV-MT aproveitou a ocasião para ouvir o palestrante Dr. Felipe Dantas Torres e realizar uma entrevista exclusiva. Na conversa, Dr. Felipe enfatizou que o combate à leishmaniose exige ações coordenadas e contínuas, indo além de medidas isoladas como o uso de coleiras repelentes. Ele destacou que Rondonópolis apresenta particularidades ambientais e sociais que tornam o desafio ainda maior, reforçando a necessidade de políticas públicas robustas para enfrentar a doença.
Com a articulação iniciada no evento, o CRMV-MT reafirma seu compromisso em colaborar ativamente com ações que promovam a saúde pública e o bem-estar animal, colocando-se como parceiro estratégico na implementação de medidas educativas e preventivas para a região.
Entrevista com o Dr. Felipe Dantas
CRMV-MT: Como especialista em Parasitologia e Saúde Pública, quais os maiores desafios que o Brasil enfrenta hoje no controle, que afetam tanto animais quanto humanos?
Dr. Felipe – O Brasil é um país continental, com uma enorme diversidade de biomas e uma vasta fauna. Isso nos expõe a várias doenças tropicais negligenciadas, como Chagas, Malária e Leishmaniose, muitas delas envolvendo animais como reservatórios. Por exemplo, a doença de Chagas está mais controlada em termos de transmissão vetorial, mas hoje a transmissão oral é predominante.
Os principais desafios no controle dessas doenças são a extensão territorial e os recursos limitados. Apesar dos esforços dos profissionais de saúde, faltam investimentos em medidas fundamentais, como o fornecimento de coleiras impregnadas de inseticida para cães, algo essencial, especialmente para comunidades de baixa renda.
CRMV-MT: Como o trabalho dos médicos-veterinários impacta diretamente a saúde pública no combate à Leishmaniose?
Dr. Felipe: O médico-veterinário tem um papel importante, especialmente por sua visão de saúde única. Ele atua no diagnóstico, no tratamento e na educação dos tutores de animais, conscientizando sobre os riscos e formas de prevenção. Além disso, é fundamental no esclarecimento de mitos, como o que envolve a eutanásia de animais infectados. É uma responsabilidade que vai além da clínica veterinária, abrangendo também ações no setor público e comunitário.
CRMV-MT: Existem inovações recentes que podem transformar o controle de parasitas no futuro?
Dr. Felipe: Com certeza. Há avanços constantes, como novos testes diagnósticos rápidos e moleculares, além de tratamentos mais modernos. Um exemplo disso é o Milteforan, registrado no MAPA para o tratamento da leishmaniose visceral e canina.
CRMV-MT: Sobre vetores, há ferramentas acessíveis para monitorar populações de vetores em áreas isoladas?
Dr. Felipe: Monitorar vetores em áreas remotas é um grande desafio. Para os flebotomíneos, por exemplo, usamos armadilhas luminosas para capturar adultos. Contudo, as dificuldades logísticas e a falta de infraestrutura, como energia elétrica, tornam essa tarefa complicada. Identificar espécies e seus padrões de infecção é crucial, mas requer recursos e pessoal especializado.
CRMV-MT: As mudanças climáticas podem aumentar áreas de risco para doenças transmitidas por vetores?
Dr. Felipe: Sim, definitivamente. O aquecimento global expande o habitat de vetores para áreas antes consideradas frias. Fenômenos como El Niño e La Niña também influenciam diretamente as populações de vetores. Estudos mostram, por exemplo, que há um aumento nos casos de Leishmaniose após anos de El Niño mais intenso.
CRMV-MT: Como o médico-veterinário pode conscientizar a comunidade sobre a importância do controle dessas zoonoses?
Dr. Felipe: A educação é a chave. O veterinário pode conscientizar os tutores de forma individual, durante consultas, e também promover ações comunitárias em parceria com agentes de saúde. Iniciativas públicas ou privadas podem amplificar essa mensagem, levando informações claras e acessíveis sobre prevenção e controle.
Ascom/CRMV-MT
Jornalista Responsável: Lena Lira – DRT/MT 1150/04
Crédito das fotos: Daniel Francisco