A zootecnia como ferramenta para transformar vidas
28 de maio de 2020 – Atualizado em 28/05/2020 – 6:48pm
Quando consultou as grades curriculares dos cursos, aos 17 anos de idade, para escolher que profissão seguir, Anna Luz Netto Malhado apaixonou-se pela zootecnia. Mesmo não tendo nascido ou convivido no meio rural, ela seguiu firme e inscreveu-se para o vestibular da primeira turma de zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A busca pela vivência e experiência prática das atividades de lida diária com o animal sempre foi uma constante na vida acadêmica da Anna Luz. “Desde o primeiro mês de faculdade fui fazer estágio na fazenda experimental da UFMT, também fiz estágios extracurriculares e obrigatórios nos mais variados setores do agronegócio que eu tive oportunidade”, conta a zootecnista.
Atualmente Anna atua na área de consultoria, assistência, extensão rural e treinamentos voltados a área técnica e desenvolvimento pessoal e profissional. Ela também faz projetos técnicos e de financiamento rural. “Como sou apaixonada pela produção animal não consegui definir por uma área específica e vi na gestão a possibilidade de trabalhar com todas, podendo estar próxima a elas no meu dia-a-dia”, relata Anna Luz.
E foi logo no início da sua vida profissional, ministrando treinamentos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT), que Anna descobriu o seu grande propósito na zootecnia, transformar vidas.
Os treinamentos acontecem onde os produtores e trabalhadores rurais estão e essa proximidade com o campo e com os participantes é o que mais me emociona, pois é possível ver a mudança de vida que o meu trabalho possibilita a eles e às comunidades, é algo que vai além do retorno financeiro”, explica a zootecnista.
Anna Luz, uma empreendedora nata, também tem uma empresa que além dos atendimentos técnicos, oferece cursos voltados ao desenvolvimento pessoal e profissional. Para ela, um dos seus maiores desafios é desenvolver a mentalidade do pequeno produtor rural no sentido de se ver como um empreendedor rural. “A grande parte pensa que por não produzir em grande escala não precisam fazer de acordo com todas as práticas de seguridade, de higiene, meio ambiente e manejo dentro da produção”.
Outro desafio, segundo ela, é fazer com que os colaboradores entendam a atividade que executam sob o olhar do patrão e tenham com maior clareza o papel deles dentro do processo de produção. Assim como fazer com que o produtor que é patrão enxergue as dificuldades que o colaborador enfrenta na operacionalização do trabalho. Dessa forma desenvolver em ambos colaborador e produtor a visão sistêmica do processo de produção rural.
Ela lembra que “nesse período de pandemia estamos sendo confrontados com a necessidade de expandir as ações da zootecnia para atender as demandas de um novo tempo, o futuro. O distanciamento fez surgir a necessidade da zootecnia expandir e intensificar o uso da tecnologia”.
Anna Luz reforça que “ no passado a tecnologia era voltada para produção. Hoje, com a Covid-19 se vê que além da produção, também o processamento, a distribuição e venda da produção precisa ter a atenção da tecnologia digital com o desenvolvimento de ferramentas que aproximem ainda mais produtor e vendedor de insumos, produtor e distribuidor e produtor e o consumidor final. Em pequena e grande escala de produção. Atrelado a isso temos através das mídias sociais o desafio de difundir a zootecnia e o agronegócio. O que quero dizer com isso é desmistificarmos as “fake News” e inverdades ditas sobre o agronegócio pela desinformação do que realmente acontece dentro e fora da porteira”.
Superar esses desafios diários trazem a Anna muito mais que retorno financeiro, conforme ela mesma conta.
Produtor “Vende-se”
Esse é um dos acontecimentos que mais me emocionam dentre todos os que já vivenciei e tive a honra de saber que aconteceram, história essa que eu nomeei de “placa de vende-se”.
Quase no final de um dos treinamentos que fui ministrar um senhor me aborda e pergunta se posso esperar alguns minutos, eu disse que sim.
Nesse tempo, o produtor correu até a entrada da propriedade e retirou a placa de vende-se que lá estava há alguns dias. Ao chegar próximo ao local onde estávamos realizando o curso Negócio Certo Rural (NCR) do Senar-MT (este treinamento trata de gestão financeira, organização da produção e gerenciamento de produtos e estoque), ele mostrou a placa e emocionado disse:
“Quero agradecer à professora e aos meus colegas porque com esse curso meu sonho está renascendo. Eu trabalhei duro por muitos anos para conseguir comprar essa propriedade e agora aos 50 anos de idade, estava a ponto de abrir mão de tudo. Eu não conseguia me manter somente da propriedade e não estava dando conta de cuidar dela, por esse motivo eu estava desistindo e a venderia para morar na cidade, iria em busca de trabalho para continuar sobrevivendo. Hoje com essa aula e tudo o que já vi que vamos aprender até o final tenho a certeza de que me ajudará a continuar e principalmente, viver da produção da minha terra. O que é meu sonho, e por esse sonho que lutei por toda minha vida”.
Enquanto falava, emocionado, esse senhor quebrava nos joelhos a placa de vende-se que estava na porteira da propriedade. O depoimento dele causou em todos uma emoção muito forte e trouxe gás no decorrer do treinamento. Fazendo com que todos se dedicassem ainda mais aos conteúdos e atividades.
Comunidade Canarana
Fui a uma comunidade do município de Canarana, ministrar um treinamento do Senar-MT realizado em parceria com o Sindicato Rural de Canarana. Tempos depois vi com alegria que os moradores do Assentamento Suyá, estavam comemorando a mudança de vida de toda a comunidade.
Em depoimento Antônio Rodrigues, morador do assentamento há oito anos, conta que a capacitação despertou o empreendedorismo nas pessoas.
“Eu e minha família aprendemos a fazer produtos que vendemos nas feiras e lojas da cidade. Isso aumentou nossa renda e mudou nossa vida.
Isso também aconteceu com várias famílias que vivem nesta comunidade.
Esse é mais um dos exemplos de mudança de vida que minha atividade, meu trabalho como zootecnista gera junto aos produtores e comunidades dentro do estado. Não existe um trabalho que, a meu ver, eu pudesse ser mais feliz e realizada. Pois ajudar o próximo é um propósito de vida que vai muito além de apenas auxiliar na produção animal. Passa pela mudança da qualidade de vida dos produtores, trabalhadores rurais e suas famílias. Em suma fazer a diferença na qualidade de vida da sociedade”.