Médica-veterinária Moema Blatt – Uma vida dedicada ao Sistema Único de Saúde
15 de setembro de 2020 – Atualizado em 15/09/2020 – 1:18pm
A tradição familiar de amparar cães e gatos de rua despertou na jovem Moema a vontade de cuidar dos animais com o olhar médico. Vontade que, no ano de 1982, culminou na sua graduação em medicina veterinária na Universidade Federal Fluminense no estado do Rio de Janeiro.
Pouco tempo depois, a então recém-formada médica-veterinária Moema Couto Silva Blatt chegou a Mato Grosso. Passou nos concursos públicos do Estado e da Prefeitura de Cuiabá. Em 1990, junto com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), Dra. Moema iniciou as suas atividades na Secretaria Estadual de Saúde. Quatro anos depois, foi cedida ao município de Cuiabá onde hoje atua como gestora do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs).
Antes, porém, Moema enfrentou diversos desafios. “O maior deles, sem dúvida, foi conquistar o espaço como profissional de medicina veterinária na saúde pública. Naquela época não havia muitas informações e as faculdades não destacavam a importância do médico-veterinário nesta área. Havia muito preconceito, inclusive por parte dos próprios colegas”, conta a profissional.
Se hoje, em pleno 2020, a mulher ainda precisa lutar para ter voz, para falar de igual para igual com o homem, para ser ouvida como profissional, imagina no início da década de 1990. “Meu marido também é médico-veterinário e era comum, quando estávamos juntos, as pessoas perguntarem sobre assuntos relacionados à minha área de atuação para ele”, lembra Dra. Moema.
Com o apoio do marido e muita paixão pela profissão, a médica-veterinária não desistiu. Em 2020 completou 30 anos de atuação na saúde pública mato-grossense. Três décadas de muito trabalho, conquistas e reconhecimento pela missão de evitar que as doenças cheguem aos animais e aos seres humanos.
Até o ano de 2010, Dra. Moema esteve à frente da Vigilância em Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde. Nos primeiros anos, as ações eram voltadas para o recolhimento e vacinação de animais com vistas ao controle de doenças. Quem não se lembra das carrocinhas que recolhiam os animais das ruas de Cuiabá?
Dentre os fatos mais marcantes daquele período, Dra. Moema destaca uma epizootia de raiva canina entre os anos de 1997 e 2001 quando cerca de 2000 cães morreram vítimas da zoonose.
Naquela época as estatísticas eram de que a cada animal positivo 10 pessoas podiam ser infectadas. “Nós trabalhamos contra todos os números e as medidas para conter o avanço da doença em humanos foram tão eficazes que tivemos apenas um óbito”, recorda a médica-veterinária.
Após a contenção do surto, as ações preventivas permitiu o bloqueio da circulação do vírus na espécie canina. Desde 2008, o município de Cuiabá não registrava nenhum caso da doença na espécie canina, até que em 2019 um caso isolada foi registrado.
A entomologia, o controle de roedores, de animais peçonhentos e de vetores também faziam parte do escopo de atuação da Dra. Moema. A experiência bem-sucedida e a estrutura de trabalho da Vigilância em Zoonoses de Cuiabá foram reconhecidos nacionalmente com prêmios e homenagens.
Após um processo de transição, em 2010 o programa de endemias foi inserido na rotina do Centro de Controle de Zoonoses e com o objetivo de fortalecer e aperfeiçoar as atividades de vigilância e de prevenção, criou-se o Centro Informação Estratégica Vigilância Em Saúde (Cievs) que tem como gestora desde o início a Dra. Moema.
A equipe da médica-veterinária é responsável por detectar os rumores de doenças, encaminhar para a checagem e monitorar as ações de resposta caso o rumor seja verdadeiro. “Hoje atuamos com informações estratégicas e emergências em saúde pública. É um trabalho em que analisamos os cenários, riscos, padrão de ocorrência das doenças e agravos e trabalhamos com várias ferramentas para gerar informação, alertas, boletins”, conta.
A dedicação e o trabalho da Dra. Moema à vigilância em saúde também rendeu a ela a co autoria do Manual de Vigilância, Prevenção e Controle de Zoonoses: Normas Técnicas e Operacionais, publicado pelo Ministério da Saúde em 2016. “Este manual remodelou a política de zoonoses no Brasil, a partir dele foram consideradas a análise dos cenários de riscos e a ações de prevenção”, explica.
Prestes a completar 40 anos de profissão, Dra. Moema dá uma dica preciosa aos acadêmicos de medicina veterinária e aos recém-formados. “Procurem conhecer a atuação do médico-veterinário na saúde pública, os campos e as oportunidades são diversas e apaixonantes”.
Fonte: Assessoria de Comunicação CRMV-MT