Por que o gado morre com a inversão térmica; o que fazer e como se prevenir quando há queda de temperatura
23 de junho de 2023 – Atualizado em 26/06/2023 – 3:39pm
O inverno começou na última quarta-feira (21), o que indica que é hora de preparar-se para quedas de temperaturas bruscas que deixam os animais expostos. Mato Grosso já registrou perdas de gado causadas pela inversão térmica, de forma isolada. Recentemente, o Mato Grosso do Sul registrou um caso preocupante de cerca 1000 mortes de bois, vacas e bezerros, por conta da mudança de temperatura,
Segundo o professor doutor, que atua no Laboratório de Patologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o médico-veterinário Edson Moleta Colodel, a inversão térmica, que é a variação de amplitude térmica, pode causar hipotermia em bovinos. Assim os animais com o corpo quente são expostos a temperaturas baixas, muitas vezes com intercorrências como umidade elevada e vento frio. Isso causa queda da temperatura corporal do bovino, abaixo do normal. Com isso pode ocorrer ausência de produção adequada de energia, principalmente se o gado está com reserva corporal e aporte de alimento inadequado e o animal não consegue compensar a perda da temperatura com as atividades metabólicas do organismo.
“Quando falamos em morte por frio é comum que relacionamos isso a uma inversão térmica, ou seja, uma variação de amplitude térmica bastante grande, que no gado zebuíno ocorre quando a sensação térmica é menor que 7º C. Então, não é como, por exemplo, a questão da morte por frio em áreas glaciais, em que há congelamento de extremidades. Aqui na nossa região é diferente, pois não temos um frio congelante, mas se tem, teoricamente, uma série de condições que faz com que o animal tenha uma perda de temperatura corporal significativa. Essas diminuem drasticamente a temperatura corporal, o que faz com que o bovino não consiga manter um equilíbrio metabólico e consequentemente tem uma série de falhas da função e acaba na morte do animal”, explica o professor doutor Edson.
A morte por frio, como é popularmente conhecida a morte por inversão térmica, é comum em bovinos indianos, os zebuínos, como nelore e gir, esse grupo de animais são mais suscetíveis, aponta o médico-veterinário.
Moleta detalha que há ocorrência de mortes em Mato Grosso, tendo casos registrados no município de Chapada dos Guimarães, na Serra de São Vicente, e nos municípios da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.
Prevenção
“Muitas das mortes que ocorrem por causa do frio, estão relacionadas com áreas onde não há abrigo natural ou artificial, como barracões, para que esses animais se abriguem. Uma outra situação de risco para esses animais é que a maior parte deles tem um score corporal ruim. Eles estão magros ou caquéticos. Então, às vezes ocorre naquela boiada que está chegando para engorda, que ainda não está em uma condição corporal satisfatória”, alerta o professor-doutor.
É possível evitar perdas econômicas, oriundas das mudanças de temperatura, preservando a vida e a saúde dos animais. Edson Moleta orienta que é necessário que os produtores façam um planejamento para o processo de nutrição dos animais, bem como, mantenham ou formem abrigos naturais ou artificiais para os mesmos.
Os médicos-veterinários são importantes para reconhecer o cenário da ocorrência e definir medidas preventivas, como preservar áreas cobertas com árvores ou fazer abrigos artificiais, além de promover estratégias para melhorar o estado corporal dos animais, por meio da nutrição.
O que fazer em casos de morte
O coordenador de Defesa Sanitária Animal do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), João Marcelo Bradini Néspoli, orienta que os casos de morte em animais devem ser comunicados ao Indea-MT e que mortes por doenças infecciosas são de notificação obrigatória.
Caso acionado, o Indea envia uma equipe até a propriedade rural para fazer a investigação. “O médico-veterinário procederá exame clínico se ainda houver animais vivos, análise epidemiológica e, se for o caso, necropsia e colheita de materiais para exames laboratoriais. Dessa forma será possível estabelecer a causa da mortalidade”, explica João Marcelo.
Ele, ainda, conta que as orientações do Indea variam conforme o diagnóstico ou suspeita.
“No caso de doenças infecciosas de notificação obrigatória, já existem procedimentos padronizados, para evitar a disseminação e proteger a saúde das pessoas da propriedade. Neste caso de morte por questões meteorológicas, descarga elétrica ou inversão térmica, encerra-se a investigação, procede-se o ajuste de estoque registrado no INDEA e orienta-se quanto à necessidade de destruição das carcaças, visando a prevenção de outras doenças, como é o caso do botulismo”, detalha.
As notificações podem ser feitas pelos telefones das Unidades ou pelo 0800 0653015. Não é necessário identificar-se.
- Maria Júlia Souza – Assessoria de Comunicação